quarta-feira, 14 de abril de 2010

Sonho

Mãe, ontem tive um sonho.
Tinha em mãos algumas cartas suas, com sua letra, seu cheiro. Eram várias folhas que significavam uma lembrança concreta e linda de você. Mas assim que eu comecei a ler a primeira página, ela começou a sumir, levando-me a concluir que eu tinha duas opções: guardar as cartas como uma lembrança concreta e visível sua, podendo ver sua letra, sentir seu cheiro sempre que quisesse, mas sem jamais saber o que estava escrito nela, ou conhecer o que você havia escrito para mim, lê-las, mas perder a lembrança física. E fiquei num grande conflito interior, até que acordei. Pensei nisso o dia todo. O dia todo mesmo. Eu leria as cartas e perderia as lembranças, ou as guardaria comigo?

No fim do dia, concluí que o melhor era lê-las. E que na verdade, eu já as havia lido. Já tinha entranhado em mim o seu jeito, tudo aquilo que estava escrito, e já vivia com esmero a minha vida muito marcada pela sua. As cartas, eram, na verdade, uma materialização de caractertísticas suas, modos de ser, sua aparência, sua criatividade, seus objetos, tudo o que lhe pertencia, e que eu tinha muito medo de perder. E percebi pelo meu aniversário, vivido só com o papai e o Sidney este ano, que essas cartas já fazem parte de mim. Eu as absorvi quando as li. Elas são pedaços do meu eu, da minha personalidade, da nova Camila, da nova mulher.
Eram como um belo prato de comida que eu poderia comer e deixar de tê-lo fisicamente ou ficar apenas olhando para guardar a lembrança, sem que ele fizesse parte de mim.

Continuo sendo sangue do seu sangue, fruto do seu ventre, da sua criação, do seu amor.

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