sexta-feira, 30 de abril de 2010

Um poema pra vc

"Fui sempre um homem alegre.
Mas depois que tu partiste,
Perdi de todo a alegria:
Fiquei triste,
triste,
triste.

Nunca dantes me sentira
Tão desinfeliz assim:
É que ando dentro da vida
sem vida dentro de mim."

(Manoel Bandeira)

quinta-feira, 29 de abril de 2010

Deu certo!

Papai amou o aniversário.
Foi tudo lindo. Ele se emocionou, se sentiu amado...
Só faltou você.
Lilinha ligou logo cedo, passamos o dia atentos ao papai. Mas é incrível como fica um vazio. Entrar no seu quarto de manhã e vê-lo acordar sozinho é muito esquisito.
Hoje vi umas fotos suas, meu coração ficou tão apertado!
Meu Deus! Que sentimento é esse que não termina, que não sossega, que se lembra sempre e deseja ardentemente estar perto...
Te amo! Te amo! Você é um tesouro...

terça-feira, 27 de abril de 2010

Falta

Hoje estou como o Francisco.
Estou muito triste que minha mamãe morreu. Muito triste que ela está "morrida".
Como você faz falta!

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Aniversário do papai

O que faremos este ano para o aniversário do papai?
Aniversário de vida e de casamento... 31 anos, né?
Cai bem numa quarta-feira. Pensa em alguma coisa que eu penso também.
Aí a gente senta e conversa a respeito.
Te amo!

terça-feira, 20 de abril de 2010

Nossas manhãs

Lembro-me de todas as vezes que deitei na sua cama e fiquei vendo você acordar...
Como é bom observar esses hábitos corriqueiros e tão cheios de vida!
Você sempre quentinha na cama, toda enroladinha, quando eu chegava ficava mais um pouco, só pra gente "se curtir". Papai brincava te chamando de dorminhoca, desejando "boa tarde" e você sorria, se espreguiçava, levantava devagar e ia escovar os dentes. Bem humorada, mas silenciosa, sonolenta.
Passava um café forte e amargo.
Enquanto isso, papai e eu já estávamos rindo, nos divertindo na mesa do café, fazendo piadas e brincadeiras.
Você nos olhava ternamente e dizia:
- Como conseguem sair da cama nesse pique todo? Acabaram de acordar e já estão a mil por hora!
A gente respondia rindo:
- Como consegue acordar tão de devagar assim?
E sorríamos juntos.
Papai às vezes desenhava carinhas nos ovos cozidos. E os colocava no suporte sorrindo, esperando você chegar à cozinha pra ver sua reação.
No meio do clima de "nova manhã", você acabava entrando na dança. Depois que nos mudamos pra Lorena, nossos cafés sempre foram longos. Duravam 1h30 no mínimo, todos os dias. Ali planejávamos o dia juntos, partilhavamos nossas vidas.
É assim ainda hoje, né?
Mas tem dias em que eu e o papai brincamos e depois fazemos silêncio.
Cada um na sua. A gente sabe o que o outro está pensando.
Aí a gente se olha com amor e bebe um gole de leite.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Sonhei com você

Mãe, sonhei com você esta noite.
Interessante que você faz parte dos meus pensamentos, das minhas vivências, do meu dia a dia. Continua fazendo parte dos sonhos, dos meus afazeres. Pensava nisso hoje no café da manhã. Você estava ali. Estavamos juntos eu, o papai e você. Tomando café, batendo papo. No aniversário da Denise, quando a trilha sonora foi "Carpenters" e "Bee gees", as suas preferidas, vi você cantando, sorrindo, curtindo cada momento.
Incrível sua presença, suas características marcantes, eternas.
Sinto uma saudade imensa de vê-la, tocá-la, porque como pessoa humana serei sempre insatisfeita enquanto não repousar em Deus, aí quero cada vez mais sua voz, seus cabelos, seu carinho... mas ao mesmo tempo, sinto que você nunca saiu daqui. Está cada vez mais viva. E isso traz paz ao meu coração.
Amo você hoje mais do que ontem.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Há um sofrimento maior que o meu

Mãe, tenho pensado muito no sofrimento do papai.
Ele é um homem guerreiro, um exemplo de superação, mas tem sofrido calado, quieto. Vejo quando ele está mais na dele, pensativo, suportando sozinho a falta que você faz. Se eu sofro, imagina ele!
É demais a sua ausência. Se você estivesse aqui, muita coisa não estaria acontecendo...
Interceda a Jesus pelo papai. Por tudo que ele tem vivido. para que eu seja a filha de que ele precisa e que consigamos juntos administrar a dor que trazemos.
Amo você!

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Sonho

Mãe, ontem tive um sonho.
Tinha em mãos algumas cartas suas, com sua letra, seu cheiro. Eram várias folhas que significavam uma lembrança concreta e linda de você. Mas assim que eu comecei a ler a primeira página, ela começou a sumir, levando-me a concluir que eu tinha duas opções: guardar as cartas como uma lembrança concreta e visível sua, podendo ver sua letra, sentir seu cheiro sempre que quisesse, mas sem jamais saber o que estava escrito nela, ou conhecer o que você havia escrito para mim, lê-las, mas perder a lembrança física. E fiquei num grande conflito interior, até que acordei. Pensei nisso o dia todo. O dia todo mesmo. Eu leria as cartas e perderia as lembranças, ou as guardaria comigo?

No fim do dia, concluí que o melhor era lê-las. E que na verdade, eu já as havia lido. Já tinha entranhado em mim o seu jeito, tudo aquilo que estava escrito, e já vivia com esmero a minha vida muito marcada pela sua. As cartas, eram, na verdade, uma materialização de caractertísticas suas, modos de ser, sua aparência, sua criatividade, seus objetos, tudo o que lhe pertencia, e que eu tinha muito medo de perder. E percebi pelo meu aniversário, vivido só com o papai e o Sidney este ano, que essas cartas já fazem parte de mim. Eu as absorvi quando as li. Elas são pedaços do meu eu, da minha personalidade, da nova Camila, da nova mulher.
Eram como um belo prato de comida que eu poderia comer e deixar de tê-lo fisicamente ou ficar apenas olhando para guardar a lembrança, sem que ele fizesse parte de mim.

Continuo sendo sangue do seu sangue, fruto do seu ventre, da sua criação, do seu amor.

domingo, 11 de abril de 2010

Aniversário

Ontem foi meu aniversário. Mas desde quinta-feira você estava se manifestando com gestos concretos de amor. Intercedendo pela minha vida, me entendendo.
Em Campos do Jordão, naquela hora lá, pensava como estava seu coração pensando em mim, me amando daí do colo de Deus, pedindo a Ele muitas graças para mim e nossa família.
Sua caçula está com 28! E você com 1. Se vida mesmo é a eterna, a definitiva, você nasceu primeiro que eu, entrou na vida primeiro, e faz um ano. Te amo pra sempre! Sou sua filha pra sempre! Sinto sua falta como um pássaro sente falta de seu ninho, mas de modo muito mais profundo e intenso.
Está tudo bem. De repente tudo perde o sentido. Fica vazio. E depois de um tempo fica bem outra vez. Vida oscilante, incerta, feita de vigílias, surpresas. Meu coração bate mais forte quando ouço sua voz gravada no celular, quando vejo um vídeo seu, escuto um recado deixado na secretária eletrônica. E parece  pesadelo sem fim.
Aí, sei que por sua intercessão, por seu carinho imenso, consigo aos poucos apaziguar meu coração, ir voltando à calmaria, como um mar bravio que se amansa depois que o vento vai embora.
Deus sabe das coisas. É o que repito e acredito todo dia.

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Seu olhar

Mãe, seu olhar não sai da minha mente. Não sai porque nosso coração se comunicava um com o outro através dele. Na maioria das vezes não precisávamos dizer. Bastava olhar. Um olhar pedia colo, um olhar agradecia, um olhar amava, um olhar perdoava, um olhar consentia, um olhar corrigia, um olhar reprovava, um olhar expressava tudo o que fosse necessário. No seu penúltimo aniversário eu só te olhei. E nos entendemos assim. Não foram necessárias palavras depois do parabéns. A gente só se olhou por alguns instantes. E só nós duas sabemos o que sentimos.
Sua presença na minha vida é muito marcada pelo olhar. O olhar enquanto eu brincava na infância, o olhar atento de quem não descuida nem um minuto, o olhar fazendo tarefas, o olhar nos momentos de despedida, o olhar de consolo nas tristezas da vida, nas grandes e pequenas coisas, nas madrugadas, passando pelo quarto pra ver se estava tudo bem, nas apresentações de escola, na faculdade, na vida. Sempre o olhar. Sincero, materno, preciso. Você me olhou. A vida inteira. A cada momento. Sem descanso, sem preguiça, sem desculpas. Quando eu vencia e quando falhava.
Não duvido que do colo de Deus você continua olhando todos nós. Apenas gostaria de ver seus olhos novamente.

Uma homenagem

"Minha estrelinha, raio de luz!
Gota do orvalho, prata do luar.
Manhã da vida, meu amanhecer.
Meu pedacinho de Deus é você!
Mamãe eu quero dizer somente que hoje o sol nasceu mais cedo pra você!
Mamãe eu quero dizer somente que hoje o dia amanheceu só pra você!"

Essa foi a música que nós cantamos quando estudávamos no Santa Gema. Nossa homenagem ao dia das mães. Não consegui esperar até ele chegar de novo. Precisei antecipar a homenagem que o coração nunca deixou de fazer. Seu dia está chegando, mãe. Sei que vamos viver juntas essa data como sempre.

terça-feira, 6 de abril de 2010

Essa semana

Tenho lembrado muito das músicas dos Carpenters que marcaram nossa história. Essa semana toda. Você cantando toda feliz na sala, dançando toda charmosa, com aquele olhar que só você sabe dar...

E do "Funi culá" quando eu e a Lilinha eramos pequenas e brincávamos na sala da Elvis Presley, em São Paulo. Você colocou o disco e começou a imitar ópera. Quase morremos de rir. São muitas coisas pra lembrar. Você vive dentro de mim.

Herança

Mãe, é interessante perceber como existem muitas pessoas vivendo o que estou vivendo. Li num blog e-xa-ta-men-te o que tenho vivido: uma das heranças que você me deixou foi o medo. Medo de o papai morrer, medo de ver acabar o pouco que resta de nós, medo de repente ficar mais sozinha ainda, de esquecer nossa história. Se o papai adoece, se tosse, eu surto. "O telefone toca fora de hora eu penso em desgraça. O medo tá grudado em mim, viscoso, frio e verde. E forte. Desde sua doença eu convivo com o medo de perder quem eu amo. O medo de perder quem me ama. É muito difícil viver assim. É como uma sombra fria que fica me falando 'cuidado, cuidado...' e me tira a alegria, muitas vezes." Eu vou na terapia. O medo faz parte de mim. Já existia quando eu era criança e sonhava que os perderia, lembra-se? Depois passou por um tempo. Agora voltou com força. É um exercício desgastante afastá-lo o tempo todo. Na vigília da páscoa eu não me sentei perto do papai e fiquei perturbada, com medo de não estar ao lado dele e aquela poder ser a última páscoa de um de nós. "Eu tenho inveja de quem não tem motivo pra ter medo. É muito difícil, mãe, conviver com uma voz que fala no seu coração 'será que é dessa vez?'".

Engraçado que você me deixou o medo, mas também a coragem, ainda que no fundinho, de continuar, porque eu tenho muito de você, do seu jeito. E também do instinto que Deus colocou em nós, de viver, custe o que custar. Tenho conhecido pessoas que há 20 anos perderam entes queridos e ainda choram de saudade.
Sua morte física é muito recente. Ainda não entra na minha cabeça.
No calendário faz 14 meses. No coração faz algumas horas.

Mais uma lembrança

Mamãe é dessas mulheres vigorosas, cheias de charme e beleza. Voz suave e rosto delicado, nariz pequeno, lábios carnudos, cabelos enrolados castanhos escuros. De vez em quando roía unhas. Quando queria, deixava as unhas compridas, quadradas, e pintava-as de vermelho. Desde que me entendo por gente lembro-me de vê-la com batom nos lábios, salto alto e toda arrumada. Sempre amou ler. Devorava livros e mais livros. Lia acima de tudo a Bíblia. Mulher de oração. De palavras sábias. De atitudes concretas. Sem respeito humano, sem meias palavras. Sempre soube das coisas. Antes de morrer chorou muito, dizendo que queria conhecer os netos. Morreu assim que fez 57 anos. Ela sabia que não sobreviveria a essa doença maldita. Sempre soube. Como sabia de muitas outras coisas. Mulher cheia de discernimento.
Eu acreditei até o último minuto que a veria novamente aqui em casa. Tive uma fé insuperável. Realmente acreditei que aconteceria o milagre que eu esperava. Mas não foi como eu imaginei, não foi como desejei, como implorei.
Mãe, você sabe que fizemos de tudo, né? Seu amor ao Céu sempre foi tão lindo e forte, que você lutou com todas as forças pra continuar vivendo. Não se entregou. Lutou resignada, bravamente, com coragem, sem reclamar, sem desanimar.
Hoje você sabe que corri como louca pelos corredores do hospital buscando ajuda. Parava médicos que nem conhecia, pedindo que solucionassem, que te ajudassem de alguma forma. Rezava, chorava, corria, não sabia o que fazer.
Liguei pra mais de dez pessoas tentando encontrar alguém que tivesse uma varinha de condão, uma oração mais poderosa que a minha, uma saída miraculosa.
Nada surtia efeito. Estávamos desnorteados. Médicos acostumados a isso, diziam que lamentavam e permaneciam impassíveis.
Como somos impotentes!
Eu me dividia entre te ver na UTI e tentar buscar ajuda. Queria ficar ali, sem desgrudar de você. E ao mesmo tempo não conseguia suportar aquele suplício, te ver desfigurada.
Você mereceu o Céu antes de todos nós. Alcançou a meta, o alvo, e continua sabendo de tudo.
Me faz falta acordar com seu bom dia, ir lá no quarto com sono e deitar do seu lado pra ficar mais 5 minutos. Ver seu rosto com as marcas do travesseiro, sentir o cheiro do seu café forte e viver o dia ao seu lado.
Antes de deitar, toda noite me lembro de você limpando a pele, passando cremes no rosto, vestindo o pijama, arrumando a cama com o papai, me dando boa noite.
Quantas noites de risadas, vocês dois lá no quarto e eu ouvindo as partilhas, rindo junto...
Quantas noites em São Paulo, quando a Lilinha morava conosco, a gente via TV no quarto nós quatro em cima da cama.
Saudade do seu tempero, das comidas que sei que nunca mais vou comer, dos conselhos, das advertências. Já tivemos desentendimentos, discussões, como toda família, mas nada se comprara à dor da ausência, do não ter mais, do sentir falta e não encontrar. Sua morte foi, de verdade, o primeiro desgosto que você nos deu.
Hoje eu queria dormir no seu colo, sentir de novo que nossa família está segura.

O inacreditável

Tive uma vida intensa com minha mãe.
Linda, humana, cheia de expectativas e projetos.
De repente uma mancha na perna, cansaço muito forte e a descoberta do câncer.
49 dias depois, a morte.
Bruta, sem sentido, sem explicação, sem controle, sem solução, sem volta...
Ontem fez 14 meses. Não quero esquecer nada do que ela fez por mim.
Não quero que passe em branco.
Sinto necessidade de continuar expressando o amor que carrego e que é só dela.

Escrevo pra minha mãe viver mais

De madrugada, tomada de saudade da minha mãe, resolvi criar este espaço íntimo pra colocar aqui as memórias da minha mãe. Ontem, 05 de abril, fez 14 meses que ela entrou na vida eterna. 14 meses de saudade indescritível, de vontade incontrolável de abraçá-la e dizer que gostaria muito que as coisas todas fossem diferentes.
QUE DARIA MINHA VIDA PRA TÊ-LA NOVAMENTE COMIGO. Que nada nunca mais foi igual desde que parei de vê-la diariamente, de sentir seu cheiro, ouvir sua voz.
Sei que você me vê, mãe. Daí do Céu. Do colo de Deus. Sei que você ainda me ama e vê que não consigo acreditar em toda essa loucura.
Ainda te sinto viva. Por isso não consigo "procurar entre os mortos aquela que está viva". Por isso nunca fui ao cemitério. Por isso nego sua morte diariamente. Por isso te procuro todo dia com o coração inquieto. Você ainda me entende, né? Como sempre.