terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Existem coisas

Existem coisas que só podem ser vividas, não dá pra falar.
Coisas que ninguém imagina que a gente viva, né, mãe?
Um momento só nosso, regado com lágrimas de saudade e desejo profundo de reencontro.
O viver buscando a verdade que dói: sua ausência física é real.
O viver constatando a verdade que acalma: você se faz sempre presente. Sinto você lutando por mim e pela nossa família, guerreira, amiga, forte, ombro, colo, coração, braço estendido.
Te beijo toda noite antes de dormir, como sempre fiz.
A diferença é que antes eu sentia você retribuindo.
Hoje eu apenas acredito.
E uma lágrima cai de saudade.
Amo você! Nunca vou deixar de amar! Nem de esperar te ver novamente.
Quando eu chegar aí no céu, vai ser como era aqui desde pequena: Mãêêêêê!!!! Chegueeeeeei!
Vou correndo te encontrar. Feliz por saber que não haverá mais separação.
Deveria ser proibido a gente perder os pais.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Falta

Mãe, hoje li um provérbio que expressou bem o que sinto quando quero lhe dizer algumas coisas: "Às vezes o que eu falo é tarde demais, para quem foi muito cedo".
Sinto muito sua falta!
Te amo!

domingo, 21 de novembro de 2010

Tem dias

Decisões que sei que você está acompanhando.
Tenho olhado sua foto no piano, suspirado e seguido em frente.
Tem dias que não sei como seguir.
Tem dias que olho buscando um conselho, uma palavra e vejo só o seu sorriso lindo. Ele me completa. De muitas formas.
Tem dias que eu quero assumir a verdade da sua ausência e por mais que eu lute ela não se faz realidade.
Tem dias que o inverno dentro de mim é rigoroso.
Tem dias que o verão é mais forte.
Tem dias que pareço duas pessoas distintas, mas as duas amam muito você.

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

I can't smile without you

Ontem eu ouvi Carpenters.
Sempre que ouço sei que vou chorar em algumas músicas, mas ouço mesmo assim.
É uma maneira de te sentir perto.
Às vezes acho até que você está do meu lado, cantando. Eu chego a ver você dançando as suas preferidas.

You know I can't smile without you
I can't smile without you
I can't laugh and I can't sleep
I don’t even talk to people I meet

And I feel sad when you're sad
I feel glad when you're glad
You must know what I'm going through
I just can’t smile without you

You came along just like a song
You brightened my day
Who’d believe you were part of a dream
That only seemed light-years away

And you know I can't smile without you
I can't smile without you
And you must know what I’m going through
I just can’t smile without you

Some people say that happiness wave
Is something that’s hard to find
Into the new, leaving the old behind me

And I feel sad when you're sad
I feel glad when you're glad
And you must know what I'm going through
I just can’t smile without you

Into the new, leaving the old behind me
And I feel sad when you're sad
I feel glad when you're glad
And you must know what I'm going through
I just can’t smile without you

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Coração doído

Tô quietinha.
Com saudade da sua voz.
Hoje eu quero te ouvir cantar.
Tô na minha.
Trocando os curativos.
Carregando a cruz, com o coração doído, fragilizado.
Só consigo dizer que te amo e queria tê-la comigo hoje, de novo.
Não dá pra te esquecer.

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Provérbio de mim

Hoje li um provérbio que passou a ser verdade depois da sua morte.
"Eu sofro de mimfobia, tenho medo de mim mesmo. Mas me enfrento todo dia." (Millôr Fernandes)
Mãe, que absurda é a sua morte! Que inaceitável, que inacreditável, que brusca, que louca, que péssima, que trágica, que inexplicável!
Saudade, saudae, muita saudade.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Torta

Faz dias que tenho vontade de comer a minha torta preferida, que só você fazia e eu nunca encontrei a receita.
Aquela durinha embaixo e cremosa por cima, tostadinha, douradinha.
Percebo que existem coisas que eu nunca mais farei. Não porque me determinei a isso, mas porque perderam o sentido e eu tenho me treinado a não perder tempo com o que é inútil.
E fica uma vontade comer de novo um pedaço daquela torta, uma fatia daquele bolo de freezer que você fazia, um suco de "maçarango", um grão de bico com bacalhau...
Com o seu tempero, o seu gosto. Porque eu já fiz, porque eu já comprei pronto também, e até o papai, que é sensível pra elogiar mesmo quando não está legal, me olhou com aqueles lindos olhos azuis e não disse nada.
Tem dias que é assim. O paladar pede o que está acostumado a ter desde sempre. A gente tenta enganar, dizer que é a mesma coisa, mas no fundo, a gente só se olha e entende a falta que você faz.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Hoje eu te vi em mim

Oi, mãe, hoje dei uma cochilada e quando acordei tirei uma foto de mim mesma.
Fico impressionada de ver como me pareço com você!
Como temos gestos parecidos, expressões faciais semelhantes!
Lembrei-me das vezes que via você acordando gostoso, sem pressa, com aquele ar de ter curtido cada minuto de sono.
Essas lembranças são vivas.
Como você. Senti falta de deitar do seu lado e acariciar seu cabelo, como fazíamos de manhã. Olhar você deitada, passar a mão no seu rosto e dizer todo dia:
- Não existe uma mãe mais bonita que a minha!
Não existe um modo de te amar mais do que já amo.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Dom de ciência

Em tudo eu sei que Deus nos fala. Ele usa meios maravilhosos pra chegar até nós e diante de adversidades, problemas, ou mesmo alegrias e bonanças, é preciso estar atento ao recado que Ele nos dá.
Você me ensinou a rezar, confiar e discernir.
Estou num momento crucial. Preciso de sabedoria.
Você nem hesitaria, saberia o que fazer agora. Continue me ensinando, por favor!
Te amo!

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Inevitável

Existem momentos que não podem ser explicados em palavras.
Só com vida, com sentimentos, com coisas que são muito maiores do que discursos.
Hoje, 1 ano e 8 meses.
Sentimentos revirados, inevitável lembrar, inevitável sofrer, invitável sentir saudade, inevitável desejar que tudo fosse diferente, inevitável lutar pra continuar, inevitável amar. Amar você, seu corpo, seu cheiro, sua voz.
Você sabe o quanto a queremos perto. O quanto ainda precisamos de você. E sempre precisaremos.

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Intercessão

Obrigada pela sua intercessão ontem, hoje e em todo esse tempo.
Saber que você continua viva, em Deus, conosco, obtendo do coração Dele muitas graças para nós, me conforta bastante.
Sinto ainda muita falta.
Lembro muito.
Penso muito.
Sonho muito.
Amo muito.

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Nem tudo passa

Fico feliz que o seu espaço ainda seja tão seu aqui dentro de mim.
Fico feliz que passados no calendário vários meses da sua ausência, eu ainda tenha tão nítida a sua voz, tão claro o seu perfume, tão perfeita a sua imagem, seus detalhes.
Meu coração fica seguro, convencido, tranquilo de que nunca a esquecerá. Nada ficará pra trás. Muito menos o amor que sinto todo dia.
Te amo!

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Sonhos

A gente tem ficado bem juntinhas nos sonhos...
Toda noite tenho sonhado com você e sentido saudade.
Te amo!

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Música

"Eu gosto de você!
E gosto de ficar com você!
Meu riso é tão feliz contigo!
Meu melhor amigo é o meu amor!
E a gente canta,
E a gente dança
E a gente não se cansa!"

Sua voz é nítida. As lembranças intermináveis.
O amor infinito.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Sampa

Fui buscar o papai no aeroporto.
Eu estava, você sabe, estressada, precisando andar por São Paulo, tomar uma "overdose" da cidade.
Fica, para mim, cada vez mais claro que sou feita de cidade grande. Cada avenida, cada buzina, cada prédio ali tem seu valor na minha história pessoal. Sou filha daquela terra, aquele é meu povo e eu amo muito tudo aquilo.
Enchi o tanque e fui cantando: "É tão bonito andar na cidade de São Paulo..." Passei pelo centro velho que é tão lindo, me emocionei relembrando momentos preciosos, o papai e eu comprando livros em sebos, encharcados de chuva e curtindo tudo aquilo. Nós todos indo ao Teatro Municipal, você, eu e a Lilinha no Pátio do Colégio por anos a fio...
Você e o papai frequentando casas de chá. São Paulo tem a nossa cara.
Mãe, eu andava naquelas ruas me sentindo em casa, apreciando a "turba desvairada", o corre-corre, valorizando o que ficou banalizado por todo mundo por causa da rotina.
Não foi um dia nostálgico. De forma nenhuma. Foi um dia de rememórias felizes, um dia pra mim, de felicidade e relaxamento depois de um período de estresse e tristeza. Ali eu me senti, como diz a Ana Jácomo, trocando o salto pelo chinelo. Eu era feliz e sabia. Cheguei no hotel mais de meia-noite querendo mais.
E ao me deitar na cama pensando: "mamãe não vai acreditar quando eu contar tudo o que vivi", me lembrei novamente da sua morte. Aí, quem não acreditava era eu. Cabeça confusa, inconformada, tipo: mas eu não vou mesmo vê-la? Será que é verdade? Que coisa absurda!
Lutei para não chorar sozinha no quarto, para não perder a maravilha vivida durante o dia.
Dormi mal, saudosa e mexida, mas acordei bem, apesar de cansada.
Saí da cama e fui andar novamente na nossa tribo. No fundo eu sei que você sempre esteve lá.

terça-feira, 31 de agosto de 2010

Ontem

Foi a primeira vez que vivi o que vivi ontem.
À noite, lá pelas onze, você sabe, comecei a chorar de saudade.
Mas a novidade é que eu não estava triste. Não mesmo.
Meu coração estava em paz, tranquilo, mas eu estava tomada de saudade.
Peguei seu porta-retrato e chorei até dormir.
Olhar vc e o papai nas fotos, lembrar de coisas... sua voz, seu cheiro.
Que saudade, mãe!
Como eu te amo e desejo te ver de novo!

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Nova semana

A semana se iniciou toda bonita, cheia de paz.
Como é gostoso acordar reconciliado consigo mesmo, com a vida, com Deus.
"Dia de luz, festa de sol e um barquinho a deslizar no macio azul do mar..."
Coloquei uma armadura impermeabilizante ao meu redor, contra todo tipo de mesquinharia, tristeza, arrogância. Tenho me permitido avançar com meu barquinho de modo mais natural, sem tanta cobrança pessoal, sem um olhar crítico que não impulsiona, ao contrário, leva para traz.
Sentir o vento no rosto, o sol refletindo na água e aquele cheirinho de maresia é bom demais para enxergar possibilidades nessa vida surpreendente.
Deus é surpreendente. E aquilo que vem Dele tem essa mesma característica.
Gosto muito disso.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Com amor

"Lembrar com amor é oferecer, no coração, um sorriso que se expande. É um jeito instantâneo e poderoso de prece. É um modo de abraço, não importa o aparente tamanho da distância, nem as enganosas cercas do tempo. Lembrar com amor é levar a vida, no exato instante da lembrança, ao lugar onde a outra vida está e plantar uma nova muda de ternura por lá." (Ana Jácomo)

domingo, 22 de agosto de 2010

Tempo

Tempo interessante esse o da espera.
Doloroso e importante ao mesmo tempo.
40 dias sem você e sem o papai.
Muita coisa sendo degustada. Saudade nem preciso dizer que existe.
A gente pesa valores, descobre muita coisa e até se assusta.
Estou prestes a colher um fruto, voce sabe. Interceda a Deus por mim para que eu não o deixe apodrecer no pé e não o colha verdolengo. Preciso do momento certo.
Amo você!

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Um poema

Hoje li um poema de Mário Quintana:
"A morte é a libertação total.
A morte é quando a gente pode, afinal,
Estar deitado de sapatos."

Achei um pouco de graça, fiquei séria em seguida. Mas pensei em você.
Na sua libertação total. Na libertação dessa vida mesquinha e boba que temos aqui.
Da libertação do seu sofrimento e da sua plenitude de hoje, que é o mais importante.
Você sempre dá um jeito de ser exemplo.
Te amo!

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Trilha sonora

Hoje o dia mereceria uma trilha sonora de Carpenters.
Do jeito que você gosta.
Mas não tenho aqui o CD e, mesmo se tivesse, estou tão sensível... que não sei se conseguiria.
Mas o coração pulsa com você...
Queria hoje o seu olhar.

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Você fica

Mamãezinha querida, que eu amo tanto!
Ontem me lembrei muito das suas brincadeiras...
Seu jeito espontâneo de rir, amar concretamente, tirar sarro.
Um lado que só os íntimos conheceram.
Nossos momentos particulares na cama, rindo de bobeiras, "apertando" uma a outra, dormindo juntinhas, alongando... Você colocando os pés nos ombros como se fosse a coisa mais natural do mundo... e eu e o papai enferrujados, rindo da sua elasticidade.
Momentos simples. Marcantes. Inesquecíveis. Muito importantes.
Você fica. Pra sempre. Nada pode fazê-la sair...

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Valeu, mãe!

Sinto uma nova fase aqui, na boca do gol.
Sinto sua intercessão, sua companhia.
Existem coisas que a gente só entende quando vive e é o que tem acontecido comigo.
Mamãe linda! Linda sempre! Sempre em mim!

sexta-feira, 16 de julho de 2010

A ponte

Você sabe bem o que estou vivendo e nós duas sabemos alguns dos motivos disso tudo.
Vamos fazer um trato?
Vou mudar o que preciso e você obtém de Deus essa graça para mim?
Preciso de salvação nesse problema. Pra direita ou pra esquerda. Praquilo que Deus tiver. Mas que se concretize a vontade dEle ainda hoje, sem demora, sem mais feridas.
Estou dilacerada, mãe. Sangrando. Decepcionada, angustiada, apática. Preciso de socorro.
Você nunca me faltou. Principalmente no que se refere ao que estou vivendo agora. Sei que ao lado de Deus é que você realmente não me faltará. Você que sempre me defendeu, me protegeu, lutou por mim, me ensinou... Conquiste comigo, do coração de Deus, essa graça. É mais do que urgente. Sinto-me morrendo.
Sem-saída, sem forças. Tenho vontade de dormir. Dormir. E quando acordo, quero dormir. Não durmo tudo que quero, mas não tenho querido outra coisa.
A leitura de hoje na missa falou sobre o fardo. "Vinde a mim vós que estais cansados e Eu vos darei descanso." Foi tudo pra mim. Não sei como ir, a não ser pedindo, reconhecendo minha necessidade e implorando salvação. É minha última cartada. Intercede a Jesus por mim.
A única certeza que tenho hoje é o amor dEle por mim e minha sede de Céu e vida de verdade. Isso aqui é só um rascunho num papel amassado, uma ponte capenga, faltando pedaços. Escorreguei num buraco da ponte há mais de um ano e estou presa pelos cabelos, sem conseguir me levantar. Por mim mesma sei que não posso. Sei também que não forço minha queda no abismo, mas vejo meus cabelos caindo, na metáfora e na vida real, e a vida esvaindo, as energias acabando de tanto me debater e a solução não chega.
Por muitos dias penso: "será que é esse meu destino'? Será que é assim que vou terminar? Esperneando e me ralando inteira, sem sucesso na travessia completa da ponte? Vai ver alguns atravessam, outros caem mesmo e eu fui escolhida pra cair. Faz tanto tempo que estou aqui... Deve ser essa mesma a minha vida. Já não sei mais o que pensar". Muitos passaram por mim e nem me viram. Outros viram e ofereceram seu braço, mas desistiram assim que perceberam que precisariam fazer força pra me puxar, porque meu cansaço não me permite mais muito esforço. Nessa hora é instintivo gritar "Mããããe!" E dolorido não ouvir resposta pronta, como antes. Porque meu coração agitado, e hoje um pouco desesperado, não está treinado para silenciar em meio a essa situação, a fim de ouvir sua voz subjetiva. Ele anseia por milagres, por uma coragem arrebatadora que o impulsione a bombear o sangue para o corpo, mexer as pernas e voltar à ponte novamente. Apesar do medo de novos buracos. Ou então, de um ato misericordioso de Deus que cesse seu sofrimento. O que mata é essa condição. Nem na ponte, nem fora dela. Vendo alguns atravessarem com sucesso e outros caírem de uma vez, e eu nem um nem outro. Ali, imóvel, com o couro cabeludo doloridíssimo, com o corpo anestesiado, sem saber mais o que fazer.
Às vezes me sinto enlouquecendo. Quando tento razionalizar sua falta, então, aí é de pirar mesmo.
Atualmente eu não controlo minhas lágrimas. Elas não caem com facilidade, mas se começam a cair, parece que meu corpo tá precisando chorar e eu choro tanto! É difícil segurar. Eu choro de soluçar. Choro gostoso até. Sem medida. Não sou mais como antes, que vertia umas lagriminhas e pronto. Agora eu não consigo chorar só um pouquinho. Se eu começo, o corpo já treme todo e o choro é copioso. Como se o organismo visse que isso alivia bastante e desse o aval pra mandar bala no choro. Aí, depois de duas horas, olhos inchados, e rosto vermelho, eu durmo fundo. Ao acordar me sinto um pouco mais leve e menos louca. Tem sido assim a rotina.
Hoje, eu andaria na Paulista chorando. Sabendo que ninguém me reconheceria, ninguém encheria o saco, ninguém ficaria escandalizado. Eu estaria lá. Andando do Paraíso à Consolação. Exatamente onde ela começa e termina. Mas isso também não posso AINDA.
Quando eu morrer, quero ser cremada e minhas cinzas serão jogadas lá.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

É inevitável

Tem dia que não dá.
Eu volto involuntariamente na saudade, na dor, na lembrança doída, na vontade de ouvi-la, vê-la, senti-la,
na vontade de ser família outra vez.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Nada de fuga

"Não há lugar para onde correr:
as mudanças, quando precisam acontecer,
sabem como nos encontrar."
(Ana Jácomo)

Incrível como isso é verdade, né, mãe?

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Intimidade

Gostei do nosso momento ontem à noite.
Rimos juntas, com liberdade de criança, apenas por imaginar aquelas situações.
Rimos pra valer. Até sair água dos olhos. E você estava lá, eu podia sentir e mesmo ouvir suas risadas.
Obrigada!
Amo você!

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Detalhes

Mamãe linda!
Pele macia de pêssego, olhos castanhos, cabelos encaracolados, escuros, mãos de quem fez muito a vida toda...
Pés ossudos rsrs joanetes grandes, como os meus eram... pés que calçaram saltos altíssimos, mesmo ao cozinhar... Mamãe sempre elegante, bem vestida, maquiada. Nariz delicado, orelhas pequenas.
Fico feliz de ter na mente e no coração detalhes minuciosos da sua pessoa. Do seu físico, do seu interior.
E ao lembrar de tudo isso, miudezas e importâncias, uma lágrima cai de saudade.
Então a incredulidade volta. Tudo parece irreal. Você ainda é tão viva e tão detalhada, tão nítida, tão clara!
Sua voz ainda ecoa...
Te amo pra sempre!

quarta-feira, 30 de junho de 2010

Madrugada

Ontem, enquanto lia o livro da Cris Guerra, chorei muito. Senti você perto de mim. Existem cenas ali descritas que são parte da minha vida. Às vezes parece um pedacinho da minha biografia. Quando ela descreve a hora do parto, o sentimento que teve... Senti tanto amor por você, mãe! O modo como ela ama o Cisco e como você sempre demonstrou amor por mim... Fui dormir chorando, olhando sua foto na parede, coração apertado, "saudade não tem fim", diz ela. Eu preferiria não nenhuma foto sua mas ter você perto de mim.
Senti-me como um cristal que caiu no chão. Que foi colado, mas que mantém a ranhura, que nunca mais será o mesmo, que possui um local fragilizado que não pode ser muito apalpado, cutucado, porque pode abrir novamente. Isso me afligiu bastante. Eu me senti sozinha, tendo que dar tempo ao tempo à força, doendo inteira, e o tempo nem sempre é amigo. "O sono, sim, é o melhor amigo dos corações partidos", como diz ela, mas ao acordar e constatar a realidade, só Deus pode me dar força para prosseguir.
Momentos assim ninguém entende. Ainda mais depois de um ano. Parece exagero, parece apego, mas eu sei que você me compreende. "Tem coisas na vida que são feitas só pra sentir", não tem como explicar.
Estou sentindo.

terça-feira, 29 de junho de 2010

28 de junho

Ontem foi 28 de junho.
Fiz 5 anos de namoro, mãe.
Só agora no fim da noite, quando ele me deu um beijo de "parabéns", e me disse umas palavras é que me dei conta.
Fiquei feliz e triste no mesmo momento.
Em 2008 eu planejava me casar no dia 28 de junho de 2009, o ano passado. Trocava muitas ideias com vc. Dureza, mãe, pensar em tudo sozinha, voltar a sonhar, sentir sua falta.
Saudade, coração tremendo, aflito, muitas vezes, esperançoso em outras. Saudade do seu entendimento.
Da compreensão do seu olhar. Saudade, mãe. Muita saudade!

quinta-feira, 24 de junho de 2010

For you!

Fiz uns corações pra você hoje.
Alguns parecem vazios, mas não estão, você sabe. "O essencial é invisível aos olhos."
Te amo!

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Lições

Mãe, hoje eu aprendi três coisas no livro da Cristiana Guerra. Esse livro é fabuloso. Tenho me encontrado muito nele, lembrado muito de você.
1- "À noite, o sono me traz a ilusão de que não estou sofrendo."
2- " A vida não é sempre alegre ou sempre triste: existe alegria na tristeza e tristeza na alegria."
A terceira coisa não está no livro, foi mais um fio que eu conectei aqui dentro de mim:
3- Quando se ama muito nenhum tempo no mundo é suficiente para se estar perto. Meu coração permaneceria sempre insatisfeito. Mesmo que sua vida tivesse durado mais de 56 anos. Seu colo seria sempre meu refúgio e eu sentiria falta tanto quanto sinto hoje. De vc completa, da sua presença. Por isso cultivo, quando o coração aguenta, as músicas que vc ouvia, o cheiro do seu perfume, as receitas que você preparava. É um modo de não deixar morrer o que me fez tão feliz por 27 anos...

terça-feira, 22 de junho de 2010

Sem palavras

Hoje está um dia nublado. Dia daqueles em que você ficaria na cama um pouco mais, depois tomaria um café forte e pelando, para começar o dia.
Uma sopa de ervilha bem grossa para o almoço, um filme à noite, um colo gostoso à tarde.
Sua voz não sai da minha cabeça. Está entranhada em mim. E é tão bom isso! Tão bom me lembrar de você dançando na sala, estudando francês, cozinhando, cantando, dirigindo, missionando...
"Que posso mais dizer se o coração já disse? Te amo!"

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Anestesia

Descobri com a vida que a dor também anestesia.
Faz dormir, desmaiar, sair de cena.
Ando assim nesta semana. Coração anestesiado de dor, lutando pra sobreviver com fé e alegria.
Sua falta é algo que não pode ser dito com palavras...
Só nós sabemos disso.
Fica comigo nessa hora! Estou precisando!

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Somos parecidas

Você viu as fotos da Chácara da Alê?
Como estou parecida fisicamente com você, mãe! No jeito, nos olhares...
Que delícia isso!
Amo você!

segunda-feira, 31 de maio de 2010

Certeza

De todas as certezas que tenho, a mais funda delas é a de que você está comigo.
Porque sinto assim.
Te amo!

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Coração sedento

Ontem eu estava feliz.
Tenho feito a novena de Nossa Senhora Auxiliadora, como todos os anos, e ela tem sido excelente para o meu coração sempre sedento de mãe.
Voltei da novena com o Sidney, contentes nós dois, jantamos com o papai e fomos juntos assistir a um filme. Eu me sentia realmente feliz. Estava muito bem. Deitada no chão da sala, vi sua foto no porta-retratos e meu coração literalmente ardeu. Ardeu fundo. E com isso um rebojo de pensamentos me desnorteou. Eu sou incrédula quanto a sua morte. Incrédula. Totalmente. No auge da minha alegria ontem, olhar pra sua foto me fez procurá-la, andar pela casa como se brincássemos de esconde-esconde. E eu pensava: "Nossa! Não a encontro! Ela não vai voltar?! Vou conviver com essa ausência até quando? É só uma brincadeira de mau gosto!" Um ceticismo me dominava porque em momentos como aquele eu sempre ouvia suas risadas, suas expressões de carinho, e via seu olhar brilhante sorrindo pra mim.
Fui dormir com a sensação de que meu coração estava sendo triturado. E quanto mais ele era espremido, mais saudade escorria, mais lembranças, mais descrença... e o ciclo recomeçava...
Quando fui dormir, deitei no escuro ali sozinha e peguei no sono com as lágrimas escorrendo devagarinho, desejando que noite acabasse logo, que a vida voasse pra gente se encontrar novamente.

sábado, 22 de maio de 2010

Ferida

Sabe quando eu era pequena e brincava na rua? Voltava quase sempre ralada, com o joelho machucado, ou o pé faltando um pedaço. Tudo fruto das estripulias, das muitas brincadeiras com todo mundo, do skate, do subir nas árvores, do jogar taco, esconde-esconde, pega-pega...

Muitas vezes eu chorava pra fazer curativos e os machucados realmente doíam bastante. Por vários anos eu tive as pernas cheias de pequenas cicatrizes e “casquinhas” secas nas feridas. E às vezes eu nem me lembrava mais do machucado, mas alguém perguntava “onde você se machucou?” e ele doía novamente. Ou então eu mesma esbarrava em algum lugar, a casquinha saía do lugar e o sangue saía outra vez.

É assim que tenho estado, mãe. Você é tão viva em mim que eu consigo conversar com você várias vezes durante o dia, como se estivéssemos lado a lado. Mas de repente alguém liga e pergunta como estou vivendo, ou me encontro em situações que me dão vontade de ir correndo te encontrar, contar as coisas, saber sua opinião, mas não te encontro. Aí a dor volta fortemente. Aí são muitas as lembranças, uma batalha interior se trava e o sangue pinga sem parar.

Dia após dia. Com muito custo consigo deixar a dor quietinha, “adormecida”, penso em outras coisas, procuro viver a vida. E então um outro fato, uma pessoa, às vezes um prato de comida, uma palestra, uma pergunta infeliz de alguém arrancam a casca e me fazem lembrar da dor, do suplício.

Às vezes tenho vontade de fugir. De entrar numa caverna, tomar um sonífero e dormir por 30 anos. Quem sabe, depois de 30 anos, o coração esteja um pouco mais acostumado... Quem sabe, pelo menos dormindo, ninguém se ache no direito de ficar perguntando, cutucando, invadindo... Quem sabe, dormindo eu passe 30 anos sonhando com você e vivendo ao seu lado novamente...

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Sua beleza

Estou sem internet, mas vc sabe o que tenho vivido.
Tenho pensado na sua beleza, na fortaleza interior que você é.
Uma rocha.
Em todos os anos que passamos juntas não me lembro de você desistindo. Lembro, sim, de vc sofrendo, vivendo, sentindo, mas desistindo, jamais!
Continue me ensinando, mãe!
Não me deixe morrer na praia!
Não me deixe esquecer de nada!
Vc está dentro de mim! Tenho seu DNA, seu jeito, seus hábitos, mesmo sendo outra pessoa.
Me ensina a ter a fibra que vc tem, a autoridade, a força e o carinho...
Sua beleza interior e exterior.
Saudade eterna...

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Só nós

Percebo que há situações que preciso viver comigo mesma. Não adianta querer transmiti-las a alguém, ou tentar fingir que elas não existem. No fundo tenho uma intuição fina, uma percepção aguçada de que aquele momento é só meu. Pertence a mim. Deve ser vivenciado com garra, com coragem e desapego.

Ontem foi assim. Quando olhei seu porta-retrato em cima do piano e não pude conter as lágrimas, senti que daquele momento único nasceria um fruto. Era inexplicavelmente um instante meu e seu. Que pessoas de fora não poderiam compreender e talvez até interferissem de modo a estragar o que estava sendo semeado no meu coração. Momentos assim me fazem querer silêncio. São sofridos, doídos, mas particulares. Reservados e íntimos demais para ser expostos. Não são pra ser traduzidos em palavras, muito menos explicados ou justificados. Aprendi que existem fatos únicos que servem somente para ser vividos. Quem não está ali naquele momento para vivê-los, perde. Porque são aquilo e só. São profundos na mesma proporção de sua efemeridade.

E são muitos, frequentes.

Ontem foi assim. Eu te olhando, sentindo, amando, lembrando, pensando... Tudo junto! Por um momento quis desabafar com alguém, mas que bom que não deu tempo! Enquanto isso, me dei conta de que o coração às vezes quer uma pessoa e não serve outra. Cada um é, sim, insubstituível. Não adianta tentar preencher de outra forma. Matar a sede com refrigerante. E em períodos assim, prefiro curtir o que tenho em mãos: lembranças, memórias, lágrimas caras, vivências, palavras ouvidas e guardadas, sentimentos exclusivos. Insistir em outros abraços, em outras vozes, em outros olhares, é não valorizar e não curtir a singularidade dessa saudade, produtora de tantas sensações.

Nós duas sabemos bem disso.

terça-feira, 11 de maio de 2010

Felicidade

"Palavra às vezes até perde a fala diante de sentimento grande.
Abraço não." (Ana Jácomo)

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Mais um recomeço

Mamãe é uma mulher cheia de discernimento e sabedoria.
Daquelas que quando o circo pega fogo ela tem a resposta certa do que fazer e como agir.
Desde que me entendo por gente não me lembro de mim senão correndo para seus braços e absorvendo seus conselhos em longas partilhas quando me sentia sem saída e quando estava bem comigo mesma.
Tenho sonhado com você, mãe. Fico feliz por isso. Em coisas corriqueiras, em sonhos comuns, mas você está sempre lá. Dando suas opiniões, comendo conosco, vivendo como sempre vivemos juntas todas as coisas. É tão bom ouvir sua voz! Nos sonhos ela fica viva e eu me sinto feliz.
Aí acordo em todas as manhãs, você vê, como se eu fosse te encontrar no café da manhã. Estou sempre esperando seu bom dia. Só quando vejo o papai saindo sozinho do quarto é que a ficha cai novamente.
E eu preciso recomeçar do zero outra vez.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

15 meses

Hoje faz 15 meses que sinto saudade todo dia...
Você continua aqui dentro, batendo: ma-mãe, ma-mãe, ma-mãe.
Obrigada por permanecer comigo. Sei que o que tenho conquistado ultimamente é fruto também da sua intercessão.
Te amo! Sempre! Cada dia mais!

segunda-feira, 3 de maio de 2010

A gripe do papai

Papai está bem gripado. A tosse muito forte e a sensibilidade a flor da pele.
Sinto falta da sua agilidade em preparar um xarope, da sua experiência de saber o que fazer na hora certa. Sinto-me sem saída muitas vezes, perdida, lembrando o que vc faria se estivesse aqui agora. A gripe dele me deixa alarmada. Receosa. Preciso me policiar pra não pensar no pior. Cada tosse de madrugada me faz acordar com um arrepio em todo o corpo. E eu rezo a Deus que lhe dê saúde, que cure seus pulmões e não deixe isso pior do que está.

sexta-feira, 30 de abril de 2010

Um poema pra vc

"Fui sempre um homem alegre.
Mas depois que tu partiste,
Perdi de todo a alegria:
Fiquei triste,
triste,
triste.

Nunca dantes me sentira
Tão desinfeliz assim:
É que ando dentro da vida
sem vida dentro de mim."

(Manoel Bandeira)

quinta-feira, 29 de abril de 2010

Deu certo!

Papai amou o aniversário.
Foi tudo lindo. Ele se emocionou, se sentiu amado...
Só faltou você.
Lilinha ligou logo cedo, passamos o dia atentos ao papai. Mas é incrível como fica um vazio. Entrar no seu quarto de manhã e vê-lo acordar sozinho é muito esquisito.
Hoje vi umas fotos suas, meu coração ficou tão apertado!
Meu Deus! Que sentimento é esse que não termina, que não sossega, que se lembra sempre e deseja ardentemente estar perto...
Te amo! Te amo! Você é um tesouro...

terça-feira, 27 de abril de 2010

Falta

Hoje estou como o Francisco.
Estou muito triste que minha mamãe morreu. Muito triste que ela está "morrida".
Como você faz falta!

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Aniversário do papai

O que faremos este ano para o aniversário do papai?
Aniversário de vida e de casamento... 31 anos, né?
Cai bem numa quarta-feira. Pensa em alguma coisa que eu penso também.
Aí a gente senta e conversa a respeito.
Te amo!

terça-feira, 20 de abril de 2010

Nossas manhãs

Lembro-me de todas as vezes que deitei na sua cama e fiquei vendo você acordar...
Como é bom observar esses hábitos corriqueiros e tão cheios de vida!
Você sempre quentinha na cama, toda enroladinha, quando eu chegava ficava mais um pouco, só pra gente "se curtir". Papai brincava te chamando de dorminhoca, desejando "boa tarde" e você sorria, se espreguiçava, levantava devagar e ia escovar os dentes. Bem humorada, mas silenciosa, sonolenta.
Passava um café forte e amargo.
Enquanto isso, papai e eu já estávamos rindo, nos divertindo na mesa do café, fazendo piadas e brincadeiras.
Você nos olhava ternamente e dizia:
- Como conseguem sair da cama nesse pique todo? Acabaram de acordar e já estão a mil por hora!
A gente respondia rindo:
- Como consegue acordar tão de devagar assim?
E sorríamos juntos.
Papai às vezes desenhava carinhas nos ovos cozidos. E os colocava no suporte sorrindo, esperando você chegar à cozinha pra ver sua reação.
No meio do clima de "nova manhã", você acabava entrando na dança. Depois que nos mudamos pra Lorena, nossos cafés sempre foram longos. Duravam 1h30 no mínimo, todos os dias. Ali planejávamos o dia juntos, partilhavamos nossas vidas.
É assim ainda hoje, né?
Mas tem dias em que eu e o papai brincamos e depois fazemos silêncio.
Cada um na sua. A gente sabe o que o outro está pensando.
Aí a gente se olha com amor e bebe um gole de leite.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Sonhei com você

Mãe, sonhei com você esta noite.
Interessante que você faz parte dos meus pensamentos, das minhas vivências, do meu dia a dia. Continua fazendo parte dos sonhos, dos meus afazeres. Pensava nisso hoje no café da manhã. Você estava ali. Estavamos juntos eu, o papai e você. Tomando café, batendo papo. No aniversário da Denise, quando a trilha sonora foi "Carpenters" e "Bee gees", as suas preferidas, vi você cantando, sorrindo, curtindo cada momento.
Incrível sua presença, suas características marcantes, eternas.
Sinto uma saudade imensa de vê-la, tocá-la, porque como pessoa humana serei sempre insatisfeita enquanto não repousar em Deus, aí quero cada vez mais sua voz, seus cabelos, seu carinho... mas ao mesmo tempo, sinto que você nunca saiu daqui. Está cada vez mais viva. E isso traz paz ao meu coração.
Amo você hoje mais do que ontem.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Há um sofrimento maior que o meu

Mãe, tenho pensado muito no sofrimento do papai.
Ele é um homem guerreiro, um exemplo de superação, mas tem sofrido calado, quieto. Vejo quando ele está mais na dele, pensativo, suportando sozinho a falta que você faz. Se eu sofro, imagina ele!
É demais a sua ausência. Se você estivesse aqui, muita coisa não estaria acontecendo...
Interceda a Jesus pelo papai. Por tudo que ele tem vivido. para que eu seja a filha de que ele precisa e que consigamos juntos administrar a dor que trazemos.
Amo você!

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Sonho

Mãe, ontem tive um sonho.
Tinha em mãos algumas cartas suas, com sua letra, seu cheiro. Eram várias folhas que significavam uma lembrança concreta e linda de você. Mas assim que eu comecei a ler a primeira página, ela começou a sumir, levando-me a concluir que eu tinha duas opções: guardar as cartas como uma lembrança concreta e visível sua, podendo ver sua letra, sentir seu cheiro sempre que quisesse, mas sem jamais saber o que estava escrito nela, ou conhecer o que você havia escrito para mim, lê-las, mas perder a lembrança física. E fiquei num grande conflito interior, até que acordei. Pensei nisso o dia todo. O dia todo mesmo. Eu leria as cartas e perderia as lembranças, ou as guardaria comigo?

No fim do dia, concluí que o melhor era lê-las. E que na verdade, eu já as havia lido. Já tinha entranhado em mim o seu jeito, tudo aquilo que estava escrito, e já vivia com esmero a minha vida muito marcada pela sua. As cartas, eram, na verdade, uma materialização de caractertísticas suas, modos de ser, sua aparência, sua criatividade, seus objetos, tudo o que lhe pertencia, e que eu tinha muito medo de perder. E percebi pelo meu aniversário, vivido só com o papai e o Sidney este ano, que essas cartas já fazem parte de mim. Eu as absorvi quando as li. Elas são pedaços do meu eu, da minha personalidade, da nova Camila, da nova mulher.
Eram como um belo prato de comida que eu poderia comer e deixar de tê-lo fisicamente ou ficar apenas olhando para guardar a lembrança, sem que ele fizesse parte de mim.

Continuo sendo sangue do seu sangue, fruto do seu ventre, da sua criação, do seu amor.

domingo, 11 de abril de 2010

Aniversário

Ontem foi meu aniversário. Mas desde quinta-feira você estava se manifestando com gestos concretos de amor. Intercedendo pela minha vida, me entendendo.
Em Campos do Jordão, naquela hora lá, pensava como estava seu coração pensando em mim, me amando daí do colo de Deus, pedindo a Ele muitas graças para mim e nossa família.
Sua caçula está com 28! E você com 1. Se vida mesmo é a eterna, a definitiva, você nasceu primeiro que eu, entrou na vida primeiro, e faz um ano. Te amo pra sempre! Sou sua filha pra sempre! Sinto sua falta como um pássaro sente falta de seu ninho, mas de modo muito mais profundo e intenso.
Está tudo bem. De repente tudo perde o sentido. Fica vazio. E depois de um tempo fica bem outra vez. Vida oscilante, incerta, feita de vigílias, surpresas. Meu coração bate mais forte quando ouço sua voz gravada no celular, quando vejo um vídeo seu, escuto um recado deixado na secretária eletrônica. E parece  pesadelo sem fim.
Aí, sei que por sua intercessão, por seu carinho imenso, consigo aos poucos apaziguar meu coração, ir voltando à calmaria, como um mar bravio que se amansa depois que o vento vai embora.
Deus sabe das coisas. É o que repito e acredito todo dia.

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Seu olhar

Mãe, seu olhar não sai da minha mente. Não sai porque nosso coração se comunicava um com o outro através dele. Na maioria das vezes não precisávamos dizer. Bastava olhar. Um olhar pedia colo, um olhar agradecia, um olhar amava, um olhar perdoava, um olhar consentia, um olhar corrigia, um olhar reprovava, um olhar expressava tudo o que fosse necessário. No seu penúltimo aniversário eu só te olhei. E nos entendemos assim. Não foram necessárias palavras depois do parabéns. A gente só se olhou por alguns instantes. E só nós duas sabemos o que sentimos.
Sua presença na minha vida é muito marcada pelo olhar. O olhar enquanto eu brincava na infância, o olhar atento de quem não descuida nem um minuto, o olhar fazendo tarefas, o olhar nos momentos de despedida, o olhar de consolo nas tristezas da vida, nas grandes e pequenas coisas, nas madrugadas, passando pelo quarto pra ver se estava tudo bem, nas apresentações de escola, na faculdade, na vida. Sempre o olhar. Sincero, materno, preciso. Você me olhou. A vida inteira. A cada momento. Sem descanso, sem preguiça, sem desculpas. Quando eu vencia e quando falhava.
Não duvido que do colo de Deus você continua olhando todos nós. Apenas gostaria de ver seus olhos novamente.

Uma homenagem

"Minha estrelinha, raio de luz!
Gota do orvalho, prata do luar.
Manhã da vida, meu amanhecer.
Meu pedacinho de Deus é você!
Mamãe eu quero dizer somente que hoje o sol nasceu mais cedo pra você!
Mamãe eu quero dizer somente que hoje o dia amanheceu só pra você!"

Essa foi a música que nós cantamos quando estudávamos no Santa Gema. Nossa homenagem ao dia das mães. Não consegui esperar até ele chegar de novo. Precisei antecipar a homenagem que o coração nunca deixou de fazer. Seu dia está chegando, mãe. Sei que vamos viver juntas essa data como sempre.

terça-feira, 6 de abril de 2010

Essa semana

Tenho lembrado muito das músicas dos Carpenters que marcaram nossa história. Essa semana toda. Você cantando toda feliz na sala, dançando toda charmosa, com aquele olhar que só você sabe dar...

E do "Funi culá" quando eu e a Lilinha eramos pequenas e brincávamos na sala da Elvis Presley, em São Paulo. Você colocou o disco e começou a imitar ópera. Quase morremos de rir. São muitas coisas pra lembrar. Você vive dentro de mim.

Herança

Mãe, é interessante perceber como existem muitas pessoas vivendo o que estou vivendo. Li num blog e-xa-ta-men-te o que tenho vivido: uma das heranças que você me deixou foi o medo. Medo de o papai morrer, medo de ver acabar o pouco que resta de nós, medo de repente ficar mais sozinha ainda, de esquecer nossa história. Se o papai adoece, se tosse, eu surto. "O telefone toca fora de hora eu penso em desgraça. O medo tá grudado em mim, viscoso, frio e verde. E forte. Desde sua doença eu convivo com o medo de perder quem eu amo. O medo de perder quem me ama. É muito difícil viver assim. É como uma sombra fria que fica me falando 'cuidado, cuidado...' e me tira a alegria, muitas vezes." Eu vou na terapia. O medo faz parte de mim. Já existia quando eu era criança e sonhava que os perderia, lembra-se? Depois passou por um tempo. Agora voltou com força. É um exercício desgastante afastá-lo o tempo todo. Na vigília da páscoa eu não me sentei perto do papai e fiquei perturbada, com medo de não estar ao lado dele e aquela poder ser a última páscoa de um de nós. "Eu tenho inveja de quem não tem motivo pra ter medo. É muito difícil, mãe, conviver com uma voz que fala no seu coração 'será que é dessa vez?'".

Engraçado que você me deixou o medo, mas também a coragem, ainda que no fundinho, de continuar, porque eu tenho muito de você, do seu jeito. E também do instinto que Deus colocou em nós, de viver, custe o que custar. Tenho conhecido pessoas que há 20 anos perderam entes queridos e ainda choram de saudade.
Sua morte física é muito recente. Ainda não entra na minha cabeça.
No calendário faz 14 meses. No coração faz algumas horas.

Mais uma lembrança

Mamãe é dessas mulheres vigorosas, cheias de charme e beleza. Voz suave e rosto delicado, nariz pequeno, lábios carnudos, cabelos enrolados castanhos escuros. De vez em quando roía unhas. Quando queria, deixava as unhas compridas, quadradas, e pintava-as de vermelho. Desde que me entendo por gente lembro-me de vê-la com batom nos lábios, salto alto e toda arrumada. Sempre amou ler. Devorava livros e mais livros. Lia acima de tudo a Bíblia. Mulher de oração. De palavras sábias. De atitudes concretas. Sem respeito humano, sem meias palavras. Sempre soube das coisas. Antes de morrer chorou muito, dizendo que queria conhecer os netos. Morreu assim que fez 57 anos. Ela sabia que não sobreviveria a essa doença maldita. Sempre soube. Como sabia de muitas outras coisas. Mulher cheia de discernimento.
Eu acreditei até o último minuto que a veria novamente aqui em casa. Tive uma fé insuperável. Realmente acreditei que aconteceria o milagre que eu esperava. Mas não foi como eu imaginei, não foi como desejei, como implorei.
Mãe, você sabe que fizemos de tudo, né? Seu amor ao Céu sempre foi tão lindo e forte, que você lutou com todas as forças pra continuar vivendo. Não se entregou. Lutou resignada, bravamente, com coragem, sem reclamar, sem desanimar.
Hoje você sabe que corri como louca pelos corredores do hospital buscando ajuda. Parava médicos que nem conhecia, pedindo que solucionassem, que te ajudassem de alguma forma. Rezava, chorava, corria, não sabia o que fazer.
Liguei pra mais de dez pessoas tentando encontrar alguém que tivesse uma varinha de condão, uma oração mais poderosa que a minha, uma saída miraculosa.
Nada surtia efeito. Estávamos desnorteados. Médicos acostumados a isso, diziam que lamentavam e permaneciam impassíveis.
Como somos impotentes!
Eu me dividia entre te ver na UTI e tentar buscar ajuda. Queria ficar ali, sem desgrudar de você. E ao mesmo tempo não conseguia suportar aquele suplício, te ver desfigurada.
Você mereceu o Céu antes de todos nós. Alcançou a meta, o alvo, e continua sabendo de tudo.
Me faz falta acordar com seu bom dia, ir lá no quarto com sono e deitar do seu lado pra ficar mais 5 minutos. Ver seu rosto com as marcas do travesseiro, sentir o cheiro do seu café forte e viver o dia ao seu lado.
Antes de deitar, toda noite me lembro de você limpando a pele, passando cremes no rosto, vestindo o pijama, arrumando a cama com o papai, me dando boa noite.
Quantas noites de risadas, vocês dois lá no quarto e eu ouvindo as partilhas, rindo junto...
Quantas noites em São Paulo, quando a Lilinha morava conosco, a gente via TV no quarto nós quatro em cima da cama.
Saudade do seu tempero, das comidas que sei que nunca mais vou comer, dos conselhos, das advertências. Já tivemos desentendimentos, discussões, como toda família, mas nada se comprara à dor da ausência, do não ter mais, do sentir falta e não encontrar. Sua morte foi, de verdade, o primeiro desgosto que você nos deu.
Hoje eu queria dormir no seu colo, sentir de novo que nossa família está segura.

O inacreditável

Tive uma vida intensa com minha mãe.
Linda, humana, cheia de expectativas e projetos.
De repente uma mancha na perna, cansaço muito forte e a descoberta do câncer.
49 dias depois, a morte.
Bruta, sem sentido, sem explicação, sem controle, sem solução, sem volta...
Ontem fez 14 meses. Não quero esquecer nada do que ela fez por mim.
Não quero que passe em branco.
Sinto necessidade de continuar expressando o amor que carrego e que é só dela.

Escrevo pra minha mãe viver mais

De madrugada, tomada de saudade da minha mãe, resolvi criar este espaço íntimo pra colocar aqui as memórias da minha mãe. Ontem, 05 de abril, fez 14 meses que ela entrou na vida eterna. 14 meses de saudade indescritível, de vontade incontrolável de abraçá-la e dizer que gostaria muito que as coisas todas fossem diferentes.
QUE DARIA MINHA VIDA PRA TÊ-LA NOVAMENTE COMIGO. Que nada nunca mais foi igual desde que parei de vê-la diariamente, de sentir seu cheiro, ouvir sua voz.
Sei que você me vê, mãe. Daí do Céu. Do colo de Deus. Sei que você ainda me ama e vê que não consigo acreditar em toda essa loucura.
Ainda te sinto viva. Por isso não consigo "procurar entre os mortos aquela que está viva". Por isso nunca fui ao cemitério. Por isso nego sua morte diariamente. Por isso te procuro todo dia com o coração inquieto. Você ainda me entende, né? Como sempre.